Cenas

Com o desenrolar da vida vamos criando laços. Laços que se fortalecem com o tempo e amizade e criam correntes que são resistem as mais impetuosas situações que nos ocorrem durante a nossa vida. Podemos não ter muitas ligações fortes como correntes, mas temos sempre algumas, ou poucas e essas são nossas raízes que revigoram a nossa personalidade, o nosso eu. E cada elo novo que acrescentamos a corrente é sinal de um obstáculo ultrapassado pela confiança e força da amizade. As correntes são a força e o significado da nossa personalidade individual manifestada de uma forma coletiva e o pior que nos pode acontecer é uma dessas correntes que nos suporta, partisse pela força da traição a nossa essência.

“Este vai ser o meu último copo. Julgo que já bebi demais.” Disse eu antes de deixar cair a cabeça na mesa e morder a língua. É isso apenas o que recordo da noite anterior e lembro-me porque tenho uma ferida na dita língua como sinal do estado alcoolizado em que me encontrava na noite passada. Suponho que foi a pior celebração de aniversário que tive.

Desde que comecei a usar óculos que constato e observo o mundo de uma forma diferente, talvez seja por ver as coisas com mais clareza e nitidez pelo menos deixei de ter as constantes dores de cabeça que tinha e agora sinto-me leve como um passarinho. Noto também que sou olhado pelos meus amigos de uma forma nova, olham com uma certa distinção e inveja, como se os óculos tivessem elevado o meu estatuto social e tenham-me tornado um Super-Homem de Óculos.

Por mais que tentasse recordar não me consigo lembrar do último beijo que lhe dei, talvez por lhe ter dado muitos ou tão poucos que não me consigo recordar do último. No entanto, lembro-me perfeitamente do primeiro que lhe dei. Era de noite e passara a tarde toda com ela. Num momento em que ela falava sobre assunto qualquer, eu olhava para os seus olhos e para os seus lábios, ela olhava-me de volta e falava e as tantas no interrompi-lhe o discurso e tentei roubar-lhe um beijo e ela aceitou e retribuiu e foi bom. Foi o primeiro beijo que lhe dei, o último não me lembro.

Sempre que vou tomar café, encontro por lá um indivíduo com um chapéu na cabeça sentado a um canto com a ler um livro sempre na mesma mesa. Também têm sempre na mesa um café, mas eu nunca o vi beber, nem muito mexer-lhe. Os únicos movimentos que faz são para mudar as folhas do livro. O interessante é que o vejo sempre com um livro diferente diariamente. Têm dias que esta a ler um livro fino, outras vezes um livro grosso com mais páginas, mas o Homem está sempre com um livro diferente e é assim a anos. Nunca o vi falar com ninguém apenas de momentos a momentos esboça sorrisos silenciosos. Já pensei em meter conversa com ele e perguntar-lhe o que esta a ler, mas não o quero incomodar é quando me vou embora ele continua a ler sentado.

Vamos caminhando lado a lado desde que nos cruzamos pela primeira vez e percebemos que tínhamos sido feitos um para o outro, mesmo sem termos ainda trocado uma palavra. Por vezes estivemos mais afastados, outras mais próximos, mas nunca estivemos totalmente desligados. Essa viagem começou a bastante tempo, noutra eternidade, noutra encarnação, mas estivemos sempre juntos ate um dia em que uma força maior nos separa e nos esperamos ate reencarnarmos e novamente os nossos espíritos encarnam numa nova forma física que torna a encontrar-se e tem sido assim desde o início dos tempos.

Houve uma altura que fumava e comecei porquê um amigo meu fumador fazia bolas de fumo, eu achava aquilo espetacular e quis fazer o mesmo e então comprei o meu primeiro maço de tabaco para tentar fazer bolas. Lembro-me de acender o primeiro cigarro no meu quarto decidido a fazer bolas de fumo e não conseguir fazer nenhuma com esse e eu na minha frustração acendi logo outro a seguir e voltei a tentar, e acendi, acendi, acendi ate que finalmente no quinto cigarro seguido fiz a minha primeira bola de fumo. Posteriormente fumei muitos cigarros e fiz muitas bolas de fumo durante imensos anos ate que um dia simplesmente parei de fumar e deixei de fazer bolas de fumo. Não tenho saudades nenhumas de fumar, no entanto, sinto saudades de fazer bolas de fumo.

Não era bom que tivéssemos um anjo da guarda? Acredito que sim e que temos uma força que nos protege de determinados acontecimentos embora não seja claro para nós que ocorrências são essas ou como essas forças atuam para nos proteger por isso talvez a maneira mais acessível de pensar, seja não acreditar e pensar que um anjo é produto do nosso pensamento por isso é uma fantasia humana de algo que embora desejássemos muito que existisse não passa de uma invenção para nos dar algum conforto quando estamos em situações delicadas, mas mesmo assim eu gosto de acreditar que existem anjos da guarda e que caminham perto de nós, tão perto que ate chegam-nos a tocar nem que seja quando estamos profundamente dormir.

Nunca sentiste que precisas de ter uma força descomunal para suportar toda a agressividade que se vê na Televisão em especial na altura dos noticiários que geralmente é um momento que se esta com a família o que pressuponha ter alguma tranquilidade e paz, no entanto, somos bombardeados com notícias horríveis que não devia fazer parte do mundo em que vivemos. Julgo muitas vezes que a vontade de quem coloca no ar esses relatos são encher-nos de medo e tornar-nos uma espécie de Zombies da nossa tranquilidade e insensíveis ao bem que nos rodeia que não têm destaque na TV e a única solução coerente para acabar com esse mal é desligarmos a Televisão.

(nota: foi escrito antes de começar a guerra aguardava apenas o momento para postar)

Já estiveste na situação em que sentes que vais rebentar a qualquer momento e cruzaste-te com pessoas que te pergunta “como vais?” e tu respondes em piloto automático “estou bem e tu?” “esta tudo bem e contigo” e tu sabes que nada esta bem, mas não queres perder tempo com explicações ou dá-las a essa pessoa e a tua cabeça continua esse turbilhão de ideias que estão prestes explodir e tu não sabes o que fazer para a acalmar, a não ser continuar com um sorriso nos lábios e passo firme no pé, até o dia em que acendes o rastilho da bomba que tens entre os teus ombros e que vai explodir num rebentamento sem o som aonde vão todos os teus “ais” e deixas depois as pessoas suspensas a perguntar “o que aconteceu?”